
José Vieira Passos Filho – membro da Academia de Engenheiros Escritores de Alagoas
Fomos uma turma única, a dos Engenheiros Civis formados em 11 de dezembro de 1970. Completaremos 50 anos de graduados, em 2020. Vou aguçar a memória, voltar ao passado, há quase 55 anos, para descrever alguns fatos relevantes da trajetória dessa turma.
Vejo-me entrando no antigo prédio da Escola de Engenharia, na Praça Sinimbu, sou surpreendido por um grupo que me recebe eufórico, de tesoura à mão, cortando-me o cabelo. Logo entendi que havia sido aprovado no difícil vestibular. Fomos comemorar a vitória no restaurante Caiçara, na Pajuçara. Que peixada primorosa! Foi uma bebedeira! Comprei a boina, raspei o cabelo, fui para casa, à noite – era um sábado -, já estava amostrando-me na Praça Deodoro.
Foram cinco anos de convivência, de um grupo que iniciou com 40 alunos e terminou com 38. Na turma tinham apenas 3 mulheres: Bernadete, Thereza e Sônia. Era uma turma coesa, no meu entendimento, mas que questionava, entre si e também junto aos mestres, quando necessário. Durante o período escolar formavam-se vários grupos: os que estudavam juntos, aqueles que se reuniam nos jardins da Praça Sinimbu, nos intervalos das aulas ou quando faltava um professor. Alguns sobressaiam-se como estudiosos, tinham os que evidenciavam ser mais inteligentes. A turma fez várias excursões técnicas: Paulo Afonso, Salvador, Estádio Rei Pelé (em construção), algumas obras em Maceió. Quase todos ganharam apelidos: eu era o mais magro (esquelético, mesmo) da turma, tinha apenas 42 kg, então fui cognominado (pelo Beder) de “rato de casa de ferragem” – depois somente, “ratinho” (nos apelidos, vou ficar por aqui). José Vieira, ou Vieirinha, chamavam-me quase oficialmente. Meu número de chamada era o 21. Após a formatura, o grupo com os pais mais abastados, viajou à Europa; eu não fui, mas soube que foi uma viagem memorável. Após formados, todos arranjaram empregos (CEAL, CASAL, DER, SUMOV, DENIT, professores da UFAL, alguns migraram para outros estados ou montaram empresas de engenharia).
Após esses quase 50 anos de formatura, nossa turma se reuniu poucas vezes, mas aqueles que ficaram em Maceió (a maioria) sempre mantiveram (ou mantem) contato. Depois de pouco mais de 20 anos de formados, começaram as baixas (falecimentos), atualmente, pelo meu controle (e do Jorge Romualdo, colega de turma), já se foram, creio, onze, sendo a mais recente perda, JOSÉ BEDER LEITE.
BEDER, era do grupo dos estudiosos/ inteligentes; sem desmerecer os demais colegas, posso afirmar que ele era o gênio da turma, como bem se expressou em artigo, Geraldo Magela, publicado em 24. 01.2020. Beder, foi um dos coordenadores de nossa formatura, era nosso líder, sempre tinha solução para todos os problemas da turma, solidário com todos os colegas, nunca se desentendeu com nenhum. Depois de formado foi professor da UFAL, até sua aposentadoria.
Aproveito a ocasião, para fazer um apelo aos remanescentes da incrível turma de Engenheiros de 1970, agora todos, já com mais 70 anos, que nos reunamos na memorável data dos nossos 50 anos de formados (será uma sexta-feira), precisamos nos rever; por um momento seremos os adolescentes que conviveram, dia a dia, por cinco anos, época que jamais será esquecida.
(Do livro “Não culpem o rio”, em produção)