
Alfredo Gazzaneo Brandão – Membro da Academia de Engenheiros Escritores de Alagoas
Bom dia, galega. Era assim que eu chamava Arione leão Bittencourt, minha sogra. Aliás, dizem os mais esclarecidos que existem ex- esposo, ex- esposa mas, de acordo com o Código Civil, uma vez sogra, sogra para sempre. Fico feliz com isso pois, tinha a minha como uma segunda mãe e ela me tinha como seu guru., embora eu não concordasse com esse título, pois, para mim, guru era ela. Figura ímpar, diferenciada da maioria das pessoas. Dona de um caráter ilibado, de uma capacidade de superação e força para enfrentar as maiores dificuldades, vencendo-as sempre. Recebeu dos pais, Georgina Neves e Joaquim Leão, um dos maiores prefeitos de nossa cidade, uma educação severa, sempre pautada nos bons princípios morais e éticos. Homem de poucas palavras e muito respeito. Tanto assim que, quando eu ainda era namorado de sua neta, Lausanne, se estivéssemos em qualquer lugar e encontrássemos com ele, imediatamente, soltávamos as mãos um do outro, tal o respeito que ele impunha, coisa que não fazíamos na frente de seus pais, Clovis e Arione. Um fato pitoresco, na verdade uma grande gafe por mim cometida, como não poderia ser diferente, aconteceu na casa de seu Leão. Estávamos nós, no início do namoro, a conversar com sua avó, D. Georgina, um doce de pessoa. Ela tinha um gatinho, que chamava carinhosamente de Miau. Não sei por que cargas d’água, entendi que seu nome era Leão. Ela estava a reclamar do trabalho que o gatinho dava, que vivia fugindo de casa, passando vários dias desaparecido, fato que a deixava bastante apreensiva. Eu, para não ficar por fora da conversa, fiz um grande comentário, sobre as fugas do Leão. Disse que ele era rebelde, deveria estar fazendo grandes farras e que ela teria que castiga-lo ao voltar para casa. Percebi a mudança na sua fisionomia. Fechou a cara e encerrou o assunto, enquanto Lausanne, sua neta ria, sem se conter. Olhando para mim, quase sem conseguir falar, disse que o nome do gato não era Leão e sim, Miau. Leão era o seu avô, marido de D. Jó. Fiquei sem chão. Tentando me inserir na conversa, cometi tamanho desatino, fato que, depois das justificativas, tornou-se um motivo de gozação, sempre lembrado nas reuniões da família. Voltando a falar da Galega, são tantas as lembranças que torna-se difícil resumi-las em um único texto. Franca e verdadeira, extremamente sincera mas, mesmo tendo motivos, era incapaz de ferir ou desagradar alguém. Sempre tinha uma palavra de elogio e de estímulo. Era capaz de repreender sua filha, ou qualquer outra pessoa, para me defender, tamanho era o seu amor por mim. Exímia pianista, também escrevia muito bem, além de gostar de arte e cultura.
Dedicou sua vida profissional à escola Sesi, querida e admirada por todos pela sua dedicação, competência, eficiência e capacidade de trabalho. Fez faculdade já madura, sabendo como ninguém, dividir seu tempo entre as suas diversas funções de esposa, mãe e dona de casa, além do emprego e da faculdade.
Foi muito amada e amou bastante. Casou duas vezes, a primeira vez com meu querido sogro, Clovis de Melo Bittencourt, com quem teve duas filhas, duas pérolas, Lausanne e Liciere e a segunda, para espanto e surpresa de toda a família, com um primo, Antônio Gama, também muito querido, passando a residir no Rio de Janeiro, cidade que aprendeu a amar como sua e lá passou vários anos de sua vida.
Pois é, Galega, você se foi. Fez sua última viagem no dia 15 de dezembro. Partiu serena, cercada cuidados e de amor das filhas, genros, netos e bisnetas tendo cumprido, com distinção, todas as etapas de sua passagem nessa vida, deixando como exemplos a coragem, o respeito ao ser humano e o amor aos amigos e à família. Deixou-nos em um dos meses mais significativos do ano, dezembro, mês do renascimento de Cristo.
E você renasceu, dessa vez, para a eternidade. Imagino a alegria que foi para todos, recebe-la na nova e definitiva morada, na casa do Pai. Assim como D. Flor, você foi recepcionada pelos dois maridos, por seus pais, parentes e amigos. E deve ter havido uma grande festa. Anilda, Carlos Moliterno e Gonzaga leão, recitando belos poemas, Luiza, minha mãe, cantando, Nádima, Ivone, Ivonise, Paulo Porto e Milton, aplaudindo, além dos inúmeros amigos que, ansiosamente, esperavam sua chegada.
O mundo dá muitas voltas e, já não nos víamos com tanta frequência como antigamente mas, o amor, quando é verdadeiro como o nosso, mantem viva essa chama, mantém presentes e próximos, os que fisicamente não mais estão.
O amor é mágico e nos permite reviver, a todo momento, o carinho, os exemplos e as boas lembranças, mantendo sempre viva, presente e aceso, esse sentimento, essa chama ardente que une essa família.
Você estará sempre presente em nossas orações, guiando nossos passos e orientando nossas vidas.
Com todo o amor do seu guru.
18 de dezembro de 2022