Ontem, viajei no tempo

De repente, estou eu de volta aos anos sessenta. Num piscar de olhos, como num passe de mágica, viajo no túnel do tempo e paro na estação ouro da minha juventude. Algo fantástico aconteceu. não apenas ouço, vejo os Beatles na minha frente, minha banda favorita, ídolos da minha juventude tão distante e, ao mesmo tempo, tão viva e presente no meu inconsciente emocional, cofre das mais belas e ricas experiências e recordações.


Não procurei entender. Satisfiz-me, apenas, em ouvir e sonhar, viajando, de forma incompreensível, porém mágica, através do tempo. Desnecessário esconder que lágrimas de saudade escorriam pelo meu rosto. Envergonhado, tentava, discretamente, enxugá-las para que as pessoas não percebessem a minha emoção. Depois, parei e pensei, que grande tolice a minha, preocupar-me em dar satisfações a quem quer que se incomode com o meu sentimento ou com as minhas emoções e reações então, reassumindo minha personalidade, resolvi imaginar-me só, com minhas boas lembranças e o sentimento pleno de felicidade que me envolvia intensamente naquele momento.


Momentos mágicos que me trouxeram de volta o ritmo novo que surgia, vibrante, diferente de tudo o que existia no cenário musical da época. Um novo jeito de cantar, dançar e de se expressar, tudo o que a juventude, rebelde, carente de coisas novas, queria para incorporar ao seu ousado dicionário de hábitos e costumes.


Foram duas imensas horas de puro orgasmo. Em uma grande tela, localizada no fundo do palco, por trás da banda, cenas de imagens vivas, muitas delas, velhas conhecidas eram projetadas, tornando o ambiente ainda mais real. Imagens e sons se fundiam, confundindo ficção com realidade.


Enfim, como nada é para sempre, o sonho foi interrompido com o acender das luzes e o ruido ensurdecedor dos aplausos ao fim do espetáculo.


Voltei, atordoado, ao meu lugar no tempo real. O palco estava vazio. Outros sons agora eram ouvidos e não era a música, a minha saudosa música que embalou meus anos dourados, minhas histórias de amor. Ouvia-se agora o ronco dos motores, as sonoras vozes de pessoas e buzinas, sons desencontrados, desafinados, sons do cotidiano.


Passo a mão na cabeça e não mais encontro os longos cabelos que usava, influência de John Lennon. A roupa, também não é a da época. Os sentimentos, embora sejam bons, não são os mesmos de minutos atrás.


É a vida que volta ao seu cotidiano, empurrando os sonhos e as doces lembranças para o grande baú da memória, lugar de destaque, onde guardo com muito cuidado e carinho, todos os bons momentos vividos em minha longa trajetória, repleta de grandes emoções e acontecimentos.


Agora, acordado, pés no chão, sigo em frente em busca do que virá, mas, com a melancólica lembrança de que ONTEM, VIAJEI NO TEMPO.

Alfredo Gazzaneo Brandão
Setembro de 2022

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