Temoteo Correia Santos

DISCURSO DO ACAD. TEMÓTEO CORREIA NA INSTALAÇÃO DA ACADEMIA DOS ENGENHEIROS ESCRITORES DE ALAGOAS – CLUBE DE ENGENHARIA DE ALAGOAS

12 de dezembro de 2022

SENHORAS E SENHORES.

Coube-me a honrada missão de significar, em nome dos colegas engenheiros, ora agraciados pelo Clube de Engenharia de Alagoas, o nosso agradecimento por tão importante laurel. Hoje é um dia histórico para a nossa categoria ao fundarmos a Academia de Engenheiros Escritores de Alagoas, marcando uma inclusão significativa no mundo literário.

A nossa Academia, da qual orgulhosamente faço parte, como sócio fundador, será um referencial da nossa capacidade e talento em também lidar com as letras.

Muitos daqui já se fazem presentes em outras congêneres no nosso Estad , a exemplo de Rostand Lanverly ( dinâmico presidente da Academia Alagoana de Letras ), Alfredo Gazzaneo, Vinicius Maia Nobre, Carlito Lima, José Passos, Ehrlich Falcão e tantos outros, brilhando e honrando o DNA da Engenharia.

Quero parabenizar o Clube de Engenharia pela feliz iniciativa de, anualmente, na semana dedicada ao engenheiro, conceder esse galardão aos colegas que se destacaram em suas árduas caminhadas, que honraram e honram o nome da Engenharia Alagoana.

Passei mais de um quartel de século militando na atividade política, quando tive a oportunidade de exercer por seis vezes consecutivas o mandato de deputado estadual por Alagoas, mas em momento algum esqueci de que era engenheiro, jamais enfraqueceu meu orgulho de ostentar o título de engenheiro civil. E confesso que mesmo esse tempo todo na política jamais me afastei do cheiro do concreto, do barulho da betoneira e, sempre que necessário revisitava o professor Aderson Moreira da Rocha e outros velhos amigos do mesmo naipe.

Sem embargo da minha longevidade na vida pública, minhas maiores e melhores amizades, que as preservo até hoje, foram construídas nos bancos da nossa boa e egrégia Faculdade de Engenharia, faculdade que me deu régua e compasso para enfrentar os desafios e obstáculos surgidos pela vida a fora.

Senhoras e senhores,

Mesmo truísmo, vale lembrar que os pendores para as ciências exatas são um apanágio inato aos vocacionados para a engenharia.

Meu despertar para o sonho de ser engenheiro surgiu quando fazia o curso ginasial no Colégio Agrícola de Satuba. Costumava passar minhas férias trabalhando em um armazém de compra de algodão de um primo meu em Maribondo. Um Carlos Galante era meu deleite e sólita companhia. Um belo dia, lendo o Jornal Gazeta de Alagoas, vi em suas páginas a prova de matemática aplicada no vestibular de Engenharia Civil da UFAL daquele ano. Com a sofreguidão característica de muitos adolescentes de minha época que buscavam o conhecimento, corri toda a prova e consegui resolver uma questão de geometria no espaço. Aquilo foi para mim uma emoção indescritível, um prazer inigualável. Meu ego inflou, contudo não tinha com quem partilhar aquele júbilo, a alegria daquele feito, entretanto comecei a sonhar em ser engenheiro e algo transcendental me dizia: Você pode.

Aquele sonho haveria de se realizar. Hoje, sou engenheiro e orgulho-me em sê-lo. Entendo, todavia, que não e fácil ser engenheiro no Brasil. Há uma incompatibilidade com a realidade do exercício de uma profissão com fulcro nas ciências exatas, que prima pela segurança, disciplina, eficiência e planejamento. Que necessita de cumprir cronogramas, de previsibilidade, estabilidade econômica e segurança jurídica para a obtenção de resultados satisfatórios.

Vivemos em um país onde ainda se decanta o improviso e o jeitinho, onde não se prioriza a infraestrutura, apesar de uma elevada carga tributária recair sobre os ombros do nosso povo. Num país em que o discurso vale mais que a ação, onde os que constroem valem menos que os que especulam, onde o assistencialismo que estimula o ócio vira política de Estado e o trabalho perde a sua sacralidade.

Vivemos numa sociedade adoecida por décadas, pela incúria, por vícios, desmandos e ilicitudes, onde a burocracia, os abusos e a ineficácia sugam recursos que deveriam sanar questões básicas no tocante a qualidade de vida das pessoas, onde o compadrio ainda ofusca a meritocracia. Sinceramente, não é fácil se fazer engenharia nesse país.

Mas o engenheiro com sua refratariedade e resiliência que lhe são próprias segue em frente e jamais se abate, não é de se entregar. Mesmo diante das adversidades ele insiste, persiste e não desiste. E com sua fé e determinação inquebrantáveis está sempre pronto a contribuir para mudar paisagens, vidas, destinos, realizar sonhos e ser protagonista no processo de desenvolvimento econômico e social do país, na busca da solução das demandas de uma sociedade cada vez mais complexa, exigente e tecnológica.

O poder público no nosso país tem sido um estorvo para a engenharia e precisa mudar, precisa ser reinventado, para que sirva, ao invés de se servir, que ajude as pessoas ao invés de atrapalhá-las, que seja cidadão. A esperteza e a desonestidade, senhoras e senhores, não devem ser irrelevadas pela sociedade como ocorre hoje em dia, o que para muitos representam até sinal de virtude e competência quando gestores dos recursos públicos logram a boa-fé dos incautos realizando obras de fachada em conluio com terceiros a despeito do interesse público.

Só através de uma convicção moral, teremos transformações efetivas que alavancarão o desenvolvimento do país e a engenharia, como protagonista, nadará a braçadas. Está provado que essa tarefa, esse resgate moral, não caberá aos políticos e sim à sociedade que de forma consciente, exigente e vigilante a levará a cabo.

Senhoras e senhores,

As universidades brasileiras ao lançarem seus novos engenheiros no mercado, em meio a um cipoal de dificuldades, diria até em área pantanosa de difícil sobrevivência, faz-me lembrar de uma história da mitologia grega bastante conhecida: O Labirinto de Creta. Lá na ilha grega de Creta o Rei Minos mandara construir um labirinto e nele colocou o Minotauro (monstro implacável com corpo de homem e cabeça e calda de touro), e anualmente enviava moças e rapazes para serem devorados pelo monstro. Dédalo (arquiteto responsável pela construção) foi mandado juntamente com seu filho Ícaro para a prisão no labirinto que construira, a mando do Rei Minos.

Dédalo, com sua genialidade, conseguiu, juntamente com seu filho, fugir construindo asas com cera e penas de aves que sobrevoavam o labirinto. Dédalo recomendou a Ícaro que não voasse muito alto pois sua aproximação do sol poderia derreter a cera e desfazer as asas. Ícaro desobedeceu e ao se aproximar do sol, suas asas derreteram e ele caiu no Mar Mediterrâneo, para a tristeza do pai.

Senhoras e senhores

O Brasil é esse labirinto de Creta, sem faltar o Rei Minos nem o Minotauro. E muitos colegas como esses que estão ora sendo homenageados, verdadeiros heróis, que conseguiram se salvar, escapando do labirinto, são um referencial e um exemplo a ser seguido. Raros, a exemplo de Dédalo e Ícaro conseguiram escapar voando. E alguns como Ícaro ousaram voar muito alto e caíram sem uma segunda chance.

Eis o Brasil que já se disse não é para amadores. E assim o será sempre, enquanto existirem muitos malandros e muitos manés. Os manés, greis que precisam acordar, crescer em conhecimento e sabedoria não cambiando o racional pelo passional, entenderem que discursos demagógicos e argumentos sofismáticos nada representam diante de ações concretas, de propósitos e valores, de retidão de caráter e sobretudo da verdade. Os manés, geralmente, não temem o desastre, acham que com a nova ordem irão levar algum tipo de vantagem, desprezando fatos que são óbvios. Toda a sua mediocridade vira instrumento a serviço da malandragem.

E os malandros, verdadeiros profissionais, desonestos em sua essência, devem ser considerados empecilhos a moral, ao progresso e ao bem estar social. Que sem os manés, eles, os malandros, não sobreviverão, salvo se por necessidade virarem honestos. Mas eles andam tão ousados que não querem apenas o nosso dinheiro, querem também a alma da nação.

Senhoras e senhores

Eu acredito no Brasil, esse Brasil que renasce, que está emergindo, esse Brasil que após longo tempo de hibernação cívica acorda, e acorda para valer. Nada aqui será como antes e o Brasil vencerá e alcançará o seu destino de glória.

Encerrarei minhas palavras agradecendo a atenção de todos os presentes reafirmando o nosso agradecimento ao Clube de Engenharia pela homenagem prestada, ao tempo em que auspicio e auguro a nossa Academia de Engenheiros Escritores de Alagoas um futuro glorioso e que acalente em seu regaço a imortalidade dos futuros literatos que formarão o seu corpo e haverão de lhe honrar ao longo de sua longeva existência.

Agradecer também ao colega, conterrâneo, ex-professor e amigo Aluísio Ferreira que gentilmente me convidou para eu proferir essa fala. Ele, que cioso e proficiente na sua gestão à frente do Clube foi recentemente reconduzido, pelo que o parabenizo e a toda a diretoria eleita.

E por fim, dedico a Rita, minha esposa, este diploma que me foi concedido, ela que foi e continua sendo, desde que a conheci, a minha maior incentivadora, contribuindo sobremaneira para as vitórias que alcancei, e solidária sempre em todos os momentos difíceis que vivi.

Deixo um grande e fraterno abraço para todos, desejando-lhes um Natal com muitas alegrias e um 2023 sob as bênçãos de Deus a quem devemos nos curvar sempre, agradecendo pela vida e tudo que ela nos propicia.

Muito obrigado.

Maceió, 12 de dezembro de 2022.