Alberto Rostand Landverly

  • Engenheiro Civil – Universidade Federal de Alagoas;
  • Mestre em Transportes – COPPE/UFRJ – Universidade de Otava/Canadá;
  • Planejamento Urbano Regional – Universidade de Berlim/Alemanha;
  • Professor da Universidade Federal de Alagoas lecionando disciplinas ofertadas aos cursos de Engenharias e Arquitetura;


Atividades Literárias:

  • Membro efetivo da Academia Alagoana de Letras – Cadeira N° 03;
  • Membro efetivo da Academia Maceioense de Letras – Cadeira N° 30 Membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas – Cadeira N° 44;
  • Sócio Honorário no Grau Mecenas da Confraria Queirosiana – Solar Condes de Resende – Vila Nova de Gaia / Porto – Portugal em 15 de março de 2022;
  • Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte;
  • Sócio Correspondente da Academia de Letras e Artes de Porto Alegre;
  • Sócio Correspondente da Academia de Letras de Arapiraca – ACALA/Alagoas;
  • Membro efetivo do Conselho Estadual de Cultura – desde abril de 2017 até o presente;
  • Membro efetivo do Conselho da Editora Graciliano Ramos – desde março de 2019 até o presente;


Textos Publicados:

Autor de artigos diversos publicados semanalmente de forma ininterrupta nos Jornais Gazeta de Alagoas, Tribuna de Alagoas, O Jornal, Tribuna Independente, Primeira Edição e Tribuna do Sertão e Meio Norte (Teresina / Piauí) – no período compreendido entre 1985 e os dias atuais.

Livros Publicados:

  • Autor do Livro “Um Modelo Microscópico do Trafego Urbano” – editado pela Gráfica Coppe – Rio de Janeiro, Agosto de 1982;
  • Autor do Livro “Para Sempre Lembrar” – editado pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos – Maceió, Novembro de 2009;
  • Autor do Livro “Um Sertanejo Lutador” – editado pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos – Maceió, Julho de 2011;
  • Autor do Livro “Momentos da Vida” – editado pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos – Maceió, Novembro de 2012;
  • Autor do Livro “Penso por isso escrevo” – editado pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos – Maceió, Maio de 2014;
  • Autor do Livro “Registrando para eternizar” – editado pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos – Maceió, Março de 2016;
  • Autor do Livro “Mexendo nas Raízes” – editado pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos – Maceió, Abril de 2017;
  • Autor do Livro “Arthur e a Ilha do Trovão” – editado pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos – Maceió, Outubro de 2018;
  • Autor do Livro “Bibia e Arca da Felicidade” – editado pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos – Maceió, Abril de 2019;
  • Autor do Livro “Simplesmente Preta” – editado pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos – Maceió, Julho de 2019;
  • Autor do Livro “Oração ao Jubileu de Jequitíbá” – editado pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos – Maceió, Novembro de 2019;
  • Autor do Livro “Mãe” – editado pela Gráfica Paym – São Paulo capital – Fevereiro de 2021;
  • Autor do Livro “As Cinco Pedras” – editado pela Gráfica Poligraf – Maceió – outubro de 2021;
  • Autor do Livro “Lelê e a Montanha Encantada” – editado pela Gráfica Poligraf – Maceió, Outubro de 2021;
  • Autor do Livro “do Mestre Com Carinho” – editado pela gráfica Poligraf – Maceió, Maio de 2022.


Lauréis recebidos:

  • Comenda “Desembargador Mario Guimarães” – decreto legislativo 07/83 da Câmara Municipal de Maceió – abril de 2011;
  • Comenda “Poeta Cavalcante Barros” – Maceió, novembro de 2008;
  • Comenda “Cavaleiro da Grã-Cruz da Literatura” – Real Academia de Letras de Porto Alegre – outubro de 2012;
  • Comenda “Poeta Jucah Santos” – Maceió, Maio de 2013;
  • Personalidade Literária Maceioense 2009 – Academia Maceioense de Letras – novembro de 2009;
  • Personalidade da Engenharia Civil – ano 2014 – Titulo concedido pelo Clube de Engenharia em Alagoas – dezembro de 2014;
  • Titulo de Cidadão honorário do Estado de Alagoas – Assembleia Legislativa do Estado e Alagoas – Março de 2015;
  • Título de Cidadão honorário de Caicó – Câmara Municipal de Caicó – Rio Grande do Norte – Julho de 2015;
  • Título de Cidadão honorário de Maceió – Câmara Municipal de Maceió – Agosto de 2015;
  • Comenda “Ledo Ivo” – Assembleia Legislativa de Alagoas – Maio de 2018;
  • Comenda Professor Hermano Pedrosa – CREA / Alagoas – Dezembro 2021;


Textos disponíveis:

  • A paixão incalculável de Vinicius
  • A Candidata
  • Jesualdo e a Rainha
  • A Praça do Meio do Mundo
  • Histórias em quadrinhos
  • O melhor produto do Brasil
  • Dom Santo
  • Capela Um do Parque das Flores

A PAIXÃO INCALCULÁVEL DE VINÍCIUS

Os fatos importantes do cotidiano são geralmente difíceis de serem relatados. Senti-me assim ante as pinturas do teto da Capela Sistina, lá em Roma, onde o fantástico Michelangelo, antecipou ao mundo como lhe caberia, eternamente, o epíteto de gênio.

À medida que o tempo passa, confronto-me com idêntico dilema ao escutar Chopin, ler Jorge Amado, lembrar Pelé, estudar Nise da Silveira ou admirar Leonardo da Vinci, não encontro palavras para discorrer sobre tais personalidades.

Afirma-se ser a coragem o sentir medo, e mesmo assim, realizar. Há dias tive oportunidade de ler mais um vez o livro intitulado “Paixão Incalculável, Memórias de um Engenheiro”, de autoria de Vinícius Maia Nobre, alagoano de Maceió, onde frequentou o curso secundário, depois alçando o título de engenheiro civil em Recife justo no ano em que nasci.

A partir de então, pontificou, quer no serviço público estadual, dirigindo entidades de classe, clubes de serviço e também, como docente da UFAL. Dono de inesgotável capacidade criadora, por sua genialidade transformou-se em paradigma para alunos, colegas de classe e trabalho e principalmente para sua família, tendo sempre a seu lado, como esteio maior, como ele próprio descreve: “Zélia, minha esposa, cujo apoio se tornou indispensável para as jornadas palmilhadas”.

Como poeta que é, professor Vinícius, em seu trabalho, enfatiza “a beleza do céu azul brilhante de sol”, quando descreve a imponência do Rio Ipanema, em Batalha, com sua ponte em um vão de 240 metros, até 1979 a maior do sistema viário de Alagoas, cujo projeto lhe pertence. 

Referindo-se ao Riacho Salgadinho, sob o título o “sujo e o mal lavado”, simula uma conversa entre os dois primeiros presidentes do Brasil, quando Deodoro da Fonseca teria dito: “Ô Floriano, eu já não estava aguentando mais o mau cheiro deste Riacho! Você está mais afastado dele e é de “ferro”, quero saber como vai se comportar depois da transposição das línguas sujas lá da Pajuçara. A resposta viria a seguir: “Deodoro, você bem sabe como é este pessoal daqui, liga-se nas galerias da prefeitura para não “dever” à concessionária e todos vão pagar o pato”.

Em Paixão Incalculável, o amigo Vinícius ilustra a história com verdades que ajudou a escrever em nosso Estado, como diversas obras de infraestrutura; tece comentários a respeito dos inúmeros governos aos quais prestou serviços, sempre como protagonista; demonstra seu sentimento de afetividade ao enaltecer colegas de profissão, para finalmente, relatar as obras de seus sonhos, muitas construídas com esforço pessoal, como o Trapichão, outras ainda dormitando no papel, qual a intervenção no complexo lagunar, oferecendo tratamento às nascentes, utilizando os desníveis dos rios Mundaú e Manguaba, para construção de sucessivas barragens, quando, aproveitando seus potenciais, geraria energia.

Professor Vinícius, grande engenheiro, aplaudido escritor, membro da Academia Alagoana de Letras, respeitado por gerações, verdadeiro Midas motivacional.

MUNDO DINÂMICO

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JESUALDO E A RAINHA
Lá na Antiguidade, quando o filósofo e matemático grego Platão analisou a humanidade e pensou na exatidão dos números, o amor foi posto em exame surgindo aquele sentimento conhecido por platônico. Sempre soube o um amor platônico acontece quando um mora na lua e o outro em qualquer lugar do espaço que fosse distante o bastante para dois seres humanos enamorados não poderem se tocar. Trocam olhares apaixonados, tremem ao enxergar um ao outro, suspiram em sonhos acordados. Em fevereiro de 2016 a revista Época, publicou matéria sob o título: “O Papa também se apaixona” onde relata sobre correspondências escritas pelo cardeal da cidade de Cracóvia, que em 1978 tornou-se Papa João Paulo II, a uma professora de filosofia que vivia nos Estados Unidos, polonesa como ele, chamada Anna-Teresa Tymieniecka. O teor dos documentos esclarecem que por mais de trinta anos, os dois mantiveram uma relação epistolar delicadamente apaixonada, que durou até a morte dele, e que tem tudo para virar filme em breve. Apesar dos comentários sobre o tema, todos embasados em fatos por muitos considerados reais, uma notícia está para abalar o mundo, caso seja divulgado pelo Palácio de Buckingham, em Londres na Inglaterra. Logo após a morte da Rainha Elizabeth II, familiares ao desocupar gavetas reais, ali encontraram inúmeras cartas sigilosamente recebidos e também enviados por Sua Majestade a um certo correspondente secreto. E o mais interessante é que tais missivas, possuíam como origem e destino, endereço na cidade de Maceió, em Alagoas, Brasil. Foi quando Jesualdo me procurou para contar ser ele o amor platônico da quase centenária lady. Falou-me que em meados dos anos oitenta do século passado, então com vinte e poucos anos de idade, viajara em lua de mel com Generosa, para conhecer o Reino Unido, mais precisamente a Escócia. Certa tarde, enquanto a esposa descansava no hotel, saiu a passear de bicicleta pelas charnecas locais, paisagem de vegetação rasteira, composta por ervas e arbustos curvados pela garra do vento. Distraído que estava, atropelou uma jovem senhora que caminhava sozinha bem proximo ao Castelo de Balmoral. Caidos, ela por cima dele, foi amor a primeira vista, o suficiente para trocarem carícias que pareciam sassear um sede inexplicável. Horas depois ainda deitados na relva, sem terem tido tempo para trocar uma unica palavra, ela levantou-se, lhe entregou um cartão com as insignias da realeza e tal qual um pássaro de fogo cantando em seu ouvido, segurou-lhe pelas orelhas, beijando-o ardentemente, para logo após falar: “write me”. E daí começou a conexão platônica entre ambos. Inúmeras foram as vezes que deslocou-se para o mesmo destino que ela se encontrava e apesar das circustâncias, sem nunca mais haverem mantido contato dermal, trocavam acenos, sorrisos e beijocas ao vento. Jesualdo está de luto. Me falou que apesar de Generosa merecer todo o carinho possível, Beth, como ele a chamava, foi o grande amor de sua vida, daqueles de arrepiar seus pelos mais icônicos, o unico aeroporto de seus olhos, pois após ela nunca mais encontrou calor em outros abraços e muito menos o gostoso sabor molhado de seus beijos nas inumeras bocas que beijou, e por mais que tentasse esquecer, o coração reclamava. Por essa e varias outras Jesualdo é um romântico amante a moda antiga . Esse é Jesualdo, ídolo de muitos que nele se enxergam, o verdadeiro casanova dos trópicos.
A PRAÇA DO MEIO DO MUNDO
Viajar trata-se de uma das melhores maneiras de expandir horizontes aprofundar conhecimentos, e assim conhecer inúmeros locais ao redor do planeta que foram palco de grandes eventos modificando para sempre a história, seja de forma ampla ou mesmo pontual. O Ground Zero, hoje construído no local onde estavam as antigas Torres Gêmeas em Nova York, cenário de um dos ataques terroristas mais violentos e chocantes do mundo. O Muro de Berlim, barreira de controle fronteiriço que durante a guerra fria dividiu a cidade alemã em duas partes, a socialista e outra capitalista, são exemplos. Já em nossa pátria, referências para o Cristo Redentor e Maracanã, no Rio de Janeiro; Palácio Itamaraty e Catedral de Brasília na Capital Federal; Elevador Lacerda e Farol da Barra em Salvador; Viaduto do Chá e o Monumento às Bandeiras em São Paulo. Apesar de hoje conhecer exatos setenta países globo afora, e nestes haver percorrido ambientes repletos de informações muitas delas milenares, para mim um dos locais responsáveis por ativar emoções que inundam meu peito, é a Praça do Meio do Mundo, construída no interior paraibano. Em minha infância, durante as férias escolares costumava visitar a casa de meus avós materno no Seridó potiguar. Tomava o ônibus até Recife, outro rumo a Campina Grande e finalmente o derradeiro para Caicó, meu destino final. Esse périplo durava quase dois dias de viagem, que na ida passavam rápidos por antever a chegada, enquanto no retorno, vagarosamente pois então trazia o coração cheio de saudades. Em uma das primeiras vezes que passei pela Praça do Meio do Mundo, já a poucas horas do destino, escutei um passageiro do coletivo afirmar: “a partir daqui tudo muda, pois chuva é como pé de cobra, ovo frita na calçada, urubu dá coice, penico dá descarga e candeeiro dá choque”. Apesar de nunca esquecer tais dizeres, considerava justamente o contrário, por estar me aproximando do ambiente que sempre considerei o paraíso, pois Caicó apesar da temperatura beirar os quarenta graus, nada era maior e intenso que o calor do carinho proveniente de parentes e amigos, brincadeiras inesquecíveis, alimentos incomparáveis, uma cidade onde em minha imaginação, até das árvores brotavam os melhores picolés. A terra de Sant’Ana com sua catedral imponente, Arco do Triunfo e o Açude Itans, do melhor carnaval do nordeste, onde o bloco “Os Fugitivos” sempre era destaque, da Praça do Coreto por cujas calçadas, aos finais de semana todos compareciam proporcionando verdadeiro desfile de modas, corroborando o slogan: “Paris lançou, Caicó copiou”, em uma época em que a comunicação acontecia através de cartas e telegramas. A tradição culinária da região, sempre a deixar água na boca, ao provar da carne de sol, arroz de leite, costela de carneiro assada, paçoca no pilão, guiné e galinha caipira, queijos coalho e de manteiga, tudo isso sem falar nos biscoitos palito, alfenim caicoense, casadinho de goiaba e chocolate. Um escândalo de glorioso sabor. Por tais motivos, a “Praça do Meio do Mundo” sempre será para mim, um marco de boas lembranças.
HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
As revistas em quadrinhos apresentam histórias, cujos enredos são narrados, quadro a quadro, por meio de desenhos e textos que utilizam um discurso direto de fácil compreensão. Data de 1890 a primeira vez, no mundo, em que os gibis passaram a circular regulamente como uma forma de instrumento literário. A partir de então, Zorro, Mickey, Turma da Mônica, Zé Carioca, Mandrake e tantos outros astros e atrizes embalaram os sonhos da mocidade do Brasil e do Mundo. Em minha concepção, contudo, os precursores destes instrumentos de leitura foram os egípcios, quando, em suas construções maravilhosas, marcavam as superfícies com símbolos os mais variados, que, posteriormente, traduzidos, legaram aos pósteros a magia de uma civilização única, especialmente no que diz respeito a conhecimentos e crenças sobre o mundo dos mortos, mistérios dos céus e conquistas, no pavilhão dos vivos. Percorrendo as tumbas do Vale dos Reis, na antiga capital, Tebas, atual Luxor, verifica-se que, em ambiente distinto do sarcófago, onde repousavam os restos mortais do Faraó, existia outra sala, com paredes revestidas em ouro, e, nelas, inúmeros quadrinhos com hieróglifos que, conexos, representavam, tanto as receitas dos alimentos que Sua Majestade mais apreciava, como também a descrição dos períodos de colheita de sementes, das fases da lua, das características do Rio Nilo, e, até, diversificadas posições de praticar sexo, além das roupas que se deveria vestir, e, evidentemente, a formula secreta a ser desvendada por sua alma para, mais uma vez, retomar o corpo embalsamado. Na gruta destinada ao Rei Menino Tutankamon, escavada em uma rocha, foram encontradas milhares de peças intactas, todas de sua propriedade, que deveriam ser usadas, por ele, em uma nova fase existencial. Contudo, o que mais chama a atenção juntamente com a máscara, tão conhecida de todos através dos livros de história, é seu trono, integralmente forjado em ouro, trazendo, no espaço destinado ao descanso de seus pés, quadrinhos, não somente com as imagens dos inimigos, mas, contando suas histórias de vida, seus pontos virtuosos e negativos. Pisando-os sempre, o Faraó Tut jamais haveria de esquecer o quanto o Egito lhes deveria reservar. Vislumbrando as paredes das construções, ainda em boas condições, pode-se, não somente conhecer, mas entender a história de um povo que poderia ser comparado a extraterrestres, se considerarmos todas as maravilhas que edificaram e conceberam, há cinco milênios atrás, e que, ainda hoje, geram estupefação em quem as conhece. Tanto em Edfu, onde está o exuberante templo de Horus, quanto em Kom Ombo, único espaço religioso egípcio dedicado a duas divindades: Sobek, o crocodilo, e Haroeus, o falcão, além do obelisco inacabado que, com 42 metros de comprimento, nunca ficou de pé, por não haver suportado seu próprio peso, é de respirar-se o imponderável. Os quadrinhos, com imagens e letras, encontrados nestes monumentos, retratam a beleza de uma longínqua era, da mesma forma que os gibis fazem renascer a saudade da meninice, por representar uma época boa, na vida de qualquer ser humano.
O MELHOR PRODUTO DO BRASIL
Desde o nascimento até a morte, o homem representa os mais variados papéis no enorme palco da vida, onde como protagonista, coadjuvante ou mero espectador, dará o seu recado segundo a realidade de cada momento. Lembro na infância de haver aprendido com meus genitores, conjunto de formalidades, palavras e atos que os cidadãos adotavam entre si para demonstrar reverência, consideração, boas maneiras, cortesia e polidez. Então, visivelmente, o mútuo respeito entre convivas obedecia a um código ético não oficial. Fossem trabalhadores do mercado informal, invariavelmente eram tratados pelos termos “esse menino” ou “essa menina”, como identificação carinhosa de juventude, mas também reconhecimento de individualidade e vitalidade. Os mais velhos, mencionados de senhor e senhora, aqueles possuidores do diploma de nível superior, sempre reconhecidos e citados como doutor. Aos pais, avós e tios se tomava a benção regularmente, muitas vezes lhes beijando uma das mãos. Nos últimos tempos, o stress do cotidiano fez com que os seres humanos, em algumas ocasiões, esquecessem tais conceitos, e seus interesses pessoais, infectados pela intolerância, trata os que pensam diferente, não como adversários mas sim inimigos. O que era visto nos estádios de futebol entre alguns integrantes de torcidas, no pleito eleitoral findo, tomou conta das ruas do Brasil, fazendo com que a civilidade praticada por seus filhos, retroagisse aos tempos de guerra onde irmãos chegaram a se trucidar na expectativa de defender ideias, alguma delas tendenciosas, de líderes muitas vezes de barro que visavam exclusivamente suas vantagens pessoais. O filósofo imperador romano Marco Aurélio, em suas “Meditações”, assim escreveu: “dentro de cada um de nós está a fonte do bem, que deve jorrar continuamente”. Entendo que é bem, fazer justiça a todos. A injustiça perverte quem a pratica. Foi injusto quem de forma grosseira deixou de aceitar a opinião do próximo por divergir da mesma, criou inverdades divulgando-as, retirou o direito de ir vir das pessoas bloqueando vias, agrediu semelhantes buscando despejar seu recalque no sucesso alheio, não praticou o bom combate envenenado por opiniões de terceiros que unicamente desejam perpetuar-se no poder, esqueceu ser a vida comparada a um círculo, a figura geométrica perfeita, sem início e sem fim, começa com o nascimento, contudo o final é desconhecido. Encerrada a eleição, os vitoriosos representam em linguagem matemática, a tese de um teorema complicado, e quando empossados, passam a ser espelhos e portanto suscetíveis a pedradas em formas de hipóteses, vindas de antigos apoiadores que em breve espaço de tempo podem transformar-se em verdades a lhes torpedear, e então como novas lideranças buscam fazer prevalecer seus princípios, outra vez negligenciando a polidez. Ainda lembrando o asqueroso clima de agressividade vivido recentemente no pleito eleitoral, invoco o celebrado literato potiguar Câmara Cascudo que em um dos seus escritos assim registrou: “Apesar de tudo, o melhor produto do Brasil, ainda é o brasileiro.”
DOM SANTO
Lembrando a condição da mulher na época imperial, vemos que diversas obras apenas enfocam a supremacia determinada por uma sociedade de traço patriarcal. De fato, grande parte das integrantes do sexo feminino estavam subordinadas ao mando de seus pais e maridos. Muitos documentos descreviam episódios de agressão, clausura e perseguição. No entanto, devemos também revelar a participação destas de outras formas que escapam da lógica da dominação. Assim torna-se fundamental o conhecimento do romance escrito pelo Bacharel Arnaldo Paiva Filho, o sócio efetivo da Academia Alagoana de Letras, que gira em torno da personagem Dona Santa, bisavó do autor. Ao perder a mãe Francisca Hermínia, aos 8 anos de idade, vítima da pandemia do cólera morbo, que assolou o estado alagoano no idos de 1855, Dona Santa na expectativa de não ter o terrível fim de sua genitora, foi enviada pelo pai para estudar em Petrópolis no Rio de Janeiro, como aluna do Colégio Cramer, coordenado por freiras, então recém inaugurado por Dom Pedro II, onde aprendeu a falar fluentemente vários idiomas, corte e costura, a apreciar música clássica e tocar piano com maestria. Após 5 anos de internato, retornou ao lar trazendo bilhete onde estava escrito: “Sua filha foi educada para ser esposa, mãe e avó.” Submissa a vontade do genitor, estava prestes a completar duas décadas de vida, quando este lhe anunciou um noivo, por nome de Barnabé, o qual começou a namorar em uma festa acontecida nos mesmos salões do Engenho Mundaú, onde anos antes, coincidentemente, seus pais se conheceram. Após breve noivado casaram e apesar de Dona Santa pertencer à oligarquia rural, quase nada conhecia do ramo, sendo uma excepcional esposa e administradora do lar. Lendo Dona Santa, conhecerão a história de uma mulher que viúva aos 28 anos, envolta por uma sociedade machista, monarquista e escravocrata, onde as relações sociais eram cercadas por injustiças e preconceitos, teve pela primeira vez que enfrentar a realidade da vida e cuidar não somente de três filhos de pouca idade, como também gerenciar profícuo engenho de cana de açúcar, e ela venceu… Houve uma época em que o versinho da moda em Alagoas era o seguinte: “na Satuba, quem governa é seu Mendonça. Na Utinga quem governa é o seu Leão. Ah! Seu Abas, Ah! Seu Hermes, ah! Seu Ulf! Dona Santa é quem governa o Riachão.” Falecida em junho de 1929, aos 83 anos de idade, Dona Santa por tudo o que realizou, estabeleceu consistente legado que a história jamais apagará, por ela sempre haver agido como verdadeira guerreira, não somente repleta de força e sensibilidade, mas acima de tudo sendo uma mulher de verdade, aproveitando a vida a seu modo e sendo feliz. O livro escrito por Arnaldo Paiva Filho, que por sua índole pura, bem poderia ser chamado de Dom Santo, direciona-se ao público de qualquer idade, que queira apreciar a boa literatura, caracterizando-se por ser possuidora do poder de nos tirar da realidade e mergulhar na história e, não distante, fazer-nos refletir e aguçar nossa criticidade. Parabéns Dom Santo, Parabéns Arnaldo Paiva Filho…
CAPELA UM DO PARQUE DAS FLORES
Valorizando o viver do ser humano, existem lugares místicos que quando frequentados, cada um com suas próprias histórias, emanam energia poderosa, e mesmo possuidores ou não de beleza, ao serem vislumbrados propiciam verdadeira paz espiritual. Nas andanças pelo mundo conheci centenas deles, contudo alguns me encantam o coração: Catedral de Santana, Caicó; Menir de Antas, Portugal; Machu Pichu, Peru; Rio Ganges e Taj Mahal, Índia; Muro das Lamentações, Jerusalém; Pirâmides de Gizé, Egito; Santa Sé, Roma; Boudhanath Stoupa, Nepal; Petra, Jordânia; Grande Muralha, China. Ambientes que ao serem vistos, senti-me extremamente sensível e intuitivo. Dentre tantos, local que muito me emociona, é a capela número um do Parque das Flores, em Maceió pois ouso compará-la a baú cheio de mistérios, oceano profundo, as vezes triste cemitério, onde em determinado momento os seres humanos recém falecidos, esperam para seguirem até o jazigo. Consciente de ser a família, representação maior de tudo para mim, justificando as realizações cotidianamente desenvolvidas na expectativa de tornar-me alguém melhor, busco sempre conscientizar-me que a morte não separa, somente une. A vida é que muitas vezes afasta os indivíduos. Nos últimos vinte anos, pôr ordem sequencial, perdi o convívio de pessoas adoráveis as quais, cada uma a seu modo, conseguiram influenciar meus atos: Eduardo Jorge Silva, Rostand, Marlene e recentemente Magaly, patriarcas de minha prole, havendo os mesmos sido sepultados no Parque da Flores, e apesar do lapso temporal entre os ocorridos, coincidentemente velados em sua capela número um. Relembrando aquela sala, onde meus entes permaneceram por curto espaço de tempo, assim como em uma plataforma de embarque, a espera de últimos acenos, em pensamento vislumbro o olhar de adeus, dominando melancolicamente a face de tantos queridos, e sinto como se os pranteados, estivessem em espirito ocupando tal vazio, consolando e ao mesmo tempo a todos fortalecendo, ante a necessidade de continuarem a viver, e permanecendo fortes na expectativa de legar aos descendentes a grandeza de atos de bondade por cada um deles praticados, enquanto fisicamente conosco estiveram. Recordando os quatro distintos episódios de despedida, ocorridos na capela número um do campo santo, facilmente entendi que as lagrimas então derramadas, indicavam ser impossível deixar de sentir falta de alguém que não podemos esquecer, somente pelo fato de que a partir de tais acontecimentos, os caminhos trilhados a partir de então, seriam desencontrados. Com a desmaterialização de Vô Iu, Vovô Amado, Vó Lí e Volene, juntos, suas netinhas, Bruna, Larissa e Flavia, os bisnetos, Arthur, Beatriz, Leonardo, Leticia, Gabriel e Matheus e também Ana Lanverly e eu próprio, perdemos suas referências palpáveis, com o término da relação, nos termos conhecidos, porém mais importante que suas vestes ou perfumes, objetos cujas utilizações poderiam ser feitas por terceiros, ficaram não somente seus exemplos sempre lembrados, mas principalmente a imensa paixão constantemente por eles demonstrada para com todos nós, porque só a bondade perpetua-se. Tudo o mais perece envolto na poeira do tempo. A capela um do Parque das Flores, é para mim símbolo de saudade eterna. Dia 20 de dezembro de 2022, terça feira, 19 horas, na Igreja Divino Espirito Santo, na Avenida Amélia Rosa, Jatiuca, Maceió, acontecerá missa de sétimo dia, quando amigos e familiares de Magaly Costa Silva, exemplar esposa, mãe e avó, se unirão em prece rogando por seu descanso eterno.