Carlito Lima

Textos disponíveis:

  • Mulherenta
  • Os oito cadetes
  • A vizinha da Ponta Verde
  • O Assessor
  • Meu primo Cuca
  • O bom pedreiro
MULHERENTA

Um homem de sessenta anos enviuvou. Acostumado com a companhia e carinhos femininos, ele não aguentou por muito tempo a solidão da viuvez. Certo dia apareceu uma mulher de vinte e poucos anos, bela e separada; amiga da família. Ele ficou interessado na jovem. Não aconteceu paquera ou noivado, o viúvo simplesmente, em uma ocasião inimaginável, no enterro de um amigo comum, conversando amenidades com essa jovem, fez uma inesperada proposta de casamento. Ela ficou atônita não sabia o que responder, jamais passou por sua cabeça ter um caso e sequer casamento com aquele coroa bonito, amigo da família. Pediu um tempo, reuniu-se com os pais e resolveu aceitar a proposta. Eram felizes. A jovem não reclamava dos afagos, da competência, da constância do companheiro, apesar da diferença de idade, foram vivendo como qualquer casal normal. Até que um dia; sempre tem um dia… ela o pegou em flagrante… Com uma mulher mais velha, madura.


Em casa, durante a conversa de separação, a jovem fez a inevitável pergunta: “- O que ela tem que eu não tenho?” O coroa, com a sabedoria dos mais vividos, acariciando suas faces respondeu: “- Experiência, estrada de vida, ela sabe fazer como eu gosto. Não preciso ensinar”.


Deus quando elaborou o projeto da raça humana, colocou nesse mundo a mulher como a criatura mais semelhante à sua imagem. E uma mulher depois dos quarenta é o estágio do ser humano mais avançado, perto do sublime, do divino. Nessa fase da vida a mulher acumula sabedoria, experiência, sensibilidade e aguça a sensualidade.


Ela está prontinha, apetitosa que nem uma manga rosa dourada madura, dessas que dá vontade de abocanhar. A manga rosa ainda se dá o trabalho de descascar, enquanto a mulher madura já está no ponto, pronta, nem precisa descascar.


A jovem de vinte anos lê o Kama-Sutra, a veterana pratica. Nada contra as jovens, são os encantos dos olhos, das fantasias, indução ao desejo. No assunto mulher, tanto Nabokov como Balzac, têm razão.


O mundo moderno não é privilégio dos jovens. A nova geração de mulheres maduras, conservadas nas academias e nos bisturis, estão em todos os lugares: nos lares, nos bares, nos mares; encarando a vida bonita, trabalhando, dançando, sorrindo, amando. As veteranas não se entregam, querem viver, querem participar ativamente da evolução. São apreciadoras dos encantos e magias da vida, que é bonita, é bonita e é bonita, como dizia o Gonzaguinha. A mulherada muito contribui com o estágio moderno do gênero humano, tornando a vida mais justa, mais amorosa.


A maior revolução da humanidade não foi a Queda da Bastilha, nem a Russa, foi a revolução sexual e social das mulheres no século passado, impondo seus merecidos lugares dentro desse mundo historicamente machista.


Venceram todos os preconceitos e intolerância. No dia em que as mulheres tiverem mais poder, mais comando, mais liderança; quando tiverem as rédeas do mundo, o gênero humano será mais digno, mais honesto, menos hipócrita.


Nos países onde existe opressão institucionalizada contra as mulheres, onde reina o machismo exacerbado, campeia a violência. São países com constantes guerras e revoluções armadas.
Devemos uma homenagem à geração dessas mulheres maduras e corajosas, que fizeram a revolução feminina no final dos anos 60 purificando a humanidade. O mundo não foi mais o mesmo, graças à coragem dessas mulheres belas, cheias de charme, que estão aí em sua plenitude.


Além disso, a mulher madura conserva o instinto maternal. E a mulher que é mulher, não basta ser boa na cama, faz o papel de companheira, namorada, amante, até de mãe. Freud explica isso em 60 volumes. E viva a mulher de quarenta, cinquenta, sessenta, setenta e tantos anos. Viva a mulherenta!

OS OITO CADETES
Durante a II Guerra Mundial, o Exército Brasileiro participou bravamente com um contingente, a Força Expedicionária Brasileira – FEB, vencendo o Nazi-Fascismo em campos de batalhas europeus. Os soldados brasileiros tornaram-se heróis e tiveram a admiração dos combatentes amigos a até inimigos por sua bravura durante as batalhas e alegria nas horas de folga ou mesmo na expectativa de encontro com o inimigo italiano e alemão. Com a experiência do campo de batalha, o Exército Brasileiro resolveu melhorar o poder de combate da tropa e investiu na formação, na educação e adestramento técnico do Oficial do Exército construindo uma nova Escola Militar, a Academia Militar das Agulhas Negras – AMAN. O projeto saiu do papel, a construção foi iniciada na cidade de Resende. Na fase de acabamento, de revestimento, por falta de verba, foram interrompidas as obras, o que causou frustação nos cadetes da velha Escola Militar do Realengo que continuou funcionando formando oficiais do Exército. Instituição por onde passaram muitos militares conhecidos no século passado. Por estarem longe da família os colegas das Escolas Militares, companheiros de estudo e ralação para concluir o curso, tornam-se irmãos por adoção, amizade que perdura por toda vida. Até hoje nós veteranos oitentões conservamos essa irmandade, nos reunindo, vez em quando, em vários locais do Brasil para boas recordações e conversar sobre os netos. Na velha Escola Militar do Realengo uma das diversões dos cadetes “laranjeiras”, que não moravam no Rio ou São Paulo, era montar no fim de semana. Oito amigos inseparáveis costumavam cavalgar perto do bairro do Realengo. Oito companheiros estavam sempre juntos, um ajudava ao outro nos estudos, nas dificuldades, e também nas diversões. Em algumas noites eles costumavam sorrateiramente cavalgar até as boates de mulheres que havia nas redondezas. Os oitos cadetes vestiam-se apenas com pelerine (capa militar azul marinho comprida até os joelhos, sem mangas), botas e o quepe a Príncipe Danilo. O mulherio se assanhava quando eles apareciam. Havia um detalhe: por baixo das pelerines eles estavam nus; assim faziam farras homéricas nos cabarés. Os cadetes cavalgavam nus, dançavam nus, apenas cobertos pela pelerine. Certamente iam nus para os quartos das prostitutas apaixonadas. Naquela época as mulheres da vida tinham namorados. Era um divertimento de alto risco, se os jovens fossem apanhados pela Patrulha Militar da Escola, pegariam cadeia ou até expulsão. Certa noite depois de dançar, depois de se deitarem com as “namoradas”, depois de se divertirem, os oito amigos montaram nos cavalos escondidos no mato e com um grito de comando dispararam pela estrada de barro retornando a Realengo. Quando galopavam por uma rua escura, por volta de uma hora da manhã, perceberam numa esquina quatro homens assaltando, batendo num senhor que pedia clemência, que não lhe matassem. Os cadetes, os oitos cavaleiros, não precisaram combinar, puxaram as rédeas, os cavalos dirigiram-se para o local do assalto. Com destemor e coragem desmontaram dos cavalos ainda a galope, agarraram os bandidos. Dois cadetes socorreram o senhor que aparentava mais de 60 anos, os outros prenderam os marginais. Entregaram os facínoras numa delegacia próxima. O velho ferido foi deixado num hospital. Na segunda-feira durante a formatura matinal, o comandante da Escola pediu à tropa que os cadetes que tinham salvado a vida de um cidadão se identificassem, o filho desse senhor estava ali para agradecer. Os oito amigos não se revelaram com receio de pegar cadeia. No dia seguinte depois do comandante insistir e prometer que não haveria punição, afinal foi um ato de bravura, os oito cadetes, depois da formatura, confabularam e resolveram se apresentarem. Assim o próprio comandante da Escola levou os oito cadetes à presença do velho no hospital. Era nada mais nada menos que Henrique Lage, um dos homens mais ricos do Brasil, dono de várias empresas, inclusive o Loyd Nacional, companhia de navios de luxo que navegavam a costa brasileira. O rico senhor agradeceu aos cadetes, feliz em vê-los, perguntou qual a precisão de cada um, eles dissessem o que queriam: casa, carro, dinheiro ou o que fosse. O velho fazia questão de retribuir. Os cadetes salvaram sua vida. Os oito amigos pediram para pensar. Reuniram-se, discutiram muito. No dia seguinte eles retornaram ao hospital com a decisão unânime entre os oito cadetes: nada queriam para eles, pediam que o Sr. Henrique Laje ajudasse a terminar a construção da Academia Militar das Agulhas Negras, que estava paralisada. O velho ficou comovido com o desapegado e altruísmo dos cadetes, no mesmo momento deu a ordem ao filho. Mandou buscar o mais fino mármore de Carrara na Itália para o revestimento, encomendou todo o piso da Academia em granito, mandou comprar material de acabamento de primeira qualidade. Afinal foi inaugurada a AMAN com uma homenagem a Henrique Laje. Ainda hoje perdura o luxo e a suntuosidade daquele belíssimo conjunto arquitetônico. A Academia Militar das Agulhas Negras é considerada a mais completa e mais bonita Academia do mundo, graças à digna e corajosa atitude dos oito cadetes; hoje anônimos militares reformados de nomes esquecidos. Porém, o belo gesto, o destemor e o amor à sua Escola tornaram-se lenda, sempre lembrada em reuniões de militares veteranos aposentados.
A VIZINHA DA PONTA VERDE

Mário Cândido nasceu e morou toda a vida no bairro do Tabuleiro do Pinto, perto do aeroporto. Quando os filhos cresceram pressionaram o pai a se mudarem para orla, local mais alegre e mais divertido.

Cândido comprou um apartamento na praia Ponta Verde. Para família foi uma alegria, para ele um sacrifício. Trocou uma casa confortável de 300 m², com enorme jardim de muitas rosas, orquídeas penduradas em frondosa mangueira e um quintal que mais parecia um bosque de tantas árvores, por um apartamento de três quartos de 150 m². Mas, a família acima de tudo. O casal ficou com uma suíte, os dois filhos ocuparam os outros quartos e transformaram uma pequena área da sala em gabinete, onde Cândido colocou um computador para trabalhar, escrever. Aposentou-se dos Correios, onde passou mais de 30 anos, estava em tempo de desfrutar a merecida aposentadoria. Como é um homem disposto, a ideia é passar um ano de pernas para o ar, depois continuar o trabalho de venda de imóveis, sua outra ocupação.

Pela manhã caminha na orla, encontra amigos, fica a conversar numa rodinha até às 9 horas, olhando as pernas de quem vive pelas praias coloridas pelo sol. Finalmente dá um mergulho e algumas braçadas antes de subir ao apartamento. Preenchem as tardes no shopping, cinemas, livraria; gosta de ler. À noite, depois dos Jornais da TV, Cândido se recolhe ao escritório, entra no computador para pesquisar, enviar e-mails aos amigos, conversar com mulheres nos chats e escrever. Já plantou várias árvores, tem dois filhos, agora cismou em escrever um livro narrando passagens de sua vida. Da sua cadeira em frente à bancada do computador, tem uma ampla visão dos apartamentos do prédio vizinho. Às vezes ele desliga a luz, para apreciar melhor o panorama. Aprendeu quando serviu ao Exército: observar é ver sem ser visto.

Quando uma jovem chega da Faculdade por volta das 23 horas, ele se liga no encanto da moça. Ela é fascinante, estatura média, cabelos escuros, escorridos até o ombro, nariz um pouco achatado, lábios grossos. Seu corpo é um monumento, seios duros, pontiagudos, cintura fina. A bunda é delirantemente protuberante. Assim que ela chega, tira a roupa, se enrola numa toalha e vai ao banho. A melhor cena, que deixa nosso amigo Cândido excitadíssimo é quando ao chegar ainda molhada do banho, abre a toalha, nua, como Deus a fez, veste uma minúscula calcinha antes de deitar, de dormir. Ele fica num entusiasmo de adolescente. Muitas vezes depois dessa cena, ele vai direto ao quarto acordar sua amada Helena; ela que gosta, sem saber por quê.

Cândido investigou a jovem vizinha: o pai é veterinário, trabalha perto de Palmeira dos Índios. Só vem para a capital nos fins de semana.

Certo dia, ao cair da tarde, Cândido foi às compras de carro no supermercado. Ao longe, no ponto de ônibus, percebeu a jovem em pé, com os livros abraçados ao peito, esperando o ônibus. Ao cruzar os olhos, ela sorriu, Cândido freou o carro no reflexo. Perguntou sinalizando com o indicador se ela ia à cidade. A moça não se fez de rogada, deu alguns passos e entrou no carro. Como uma princesa sentou-se ao lado, a saia curta mostrava suas pernas maravilhosas. Deu boa noite, disse que ia para a Faculdade do CESMAC no Farol. Cândido mentiu, também ia para o Farol. Conversaram amenidades, mas o coração do jovem coroa estava disparado feito um menino. Afinal chegaram à Faculdade.

Naquela noite Cândido ficou esperando a chegada de sua musa, a vizinha de janela. Compensou a espera, a jovem ao entrar no apartamento, tirou a roupa bem devagar, com sensualidade arrepiante. Quem gostou foi sua esposa Helena quando ele a acordou e caiu desesperadamente em seus braços.

No dia seguinte, repetiu, Cândido passou à mesma hora pelo ponto de ônibus e frustrou-se. Dias depois, se emocionou quando a viu abraçando os livros. Freou o carro; ela entrou mais bonita que nunca. Laurinha, assim se chama, 19 anos, faz o curso de Direito no CESMAC, é mulher prática, pragmática, perdeu a mãe cedo, vive com o pai, levam uma vida de parcimônia. Em certo momento ela foi direta, sem dó, olhando Cândido dirigir o carro.

– Eu tenho a impressão que você está me paquerando. Eu percebo você toda noite na janela me olhando. Faço aquela cena de propósito. Tenho esse defeito, adoro que os homens me olhem.

Cândido não esperava por essa, estremeceu, tentou se acalmar virou o rosto, encarou-a, e deu um sorriso largo.

– Você é uma danadinha hein?

– Danadinha ou danadona, vou lhe fazer uma proposta indecente: saio com você, e você paga minha faculdade. Que tal? Pense. Estamos chegando, me pegue aqui mais tarde. Às 9:30 horas, depois de minha última aula. Estarei lhe esperando nessa esquina.

Cândido, emocionado, parou o carro. Ela desceu, acenou com os dedos sem olhar para trás.

O difícil foi arranjar uma desculpa para sair de casa às 9 horas àquela noite. Em certo momento ele arriscou um convite à esposa.

– Helena, está passando um filmaço no Cine Pajuçara. Topa assistir hoje?

Ficou esperando a resposta. Quando ela disse estar sem vontade, ele quase dava uma gargalhada de felicidade. Perguntou se incomodava de ele ir sozinho.

Às 9.30 horas da noite Laurinha se aproximou do local, ele já estava plantado. No motel quase teve um infarto de tantas manobras de amor. O aposentado Cândido ficou com mais despesa no orçamento. Mas, feliz da vida, espera as tardes das quartas-feiras para ter sua universitária nos braços. E toda a noite não se cansa em observar, ao longe, a vizinha da Ponta Verde.

O ASSESSOR
Alexandre faz a maior festa quando avista um conhecido, sua simpatia contagiante consegue coisa que até Deus duvida, resumindo, é um bajulador por natureza e profissão. Há mais de 25 anos permanece em cargo comissionado na Assembleia. Sai governo, entra governo, ele continua. Com a sinecura educou os filhos, sustenta a família. Perto das eleições ele se entrega de corpo e alma ao trabalho, já fez campanha para vários políticos, todos eleitos, é pé quente, se gaba. Atualmente é assessor de um deputado, raposa felpuda, dono de um extenso curral eleitoral, campeão de votos e de tenebrosas transações. Alexandre, Xandoca para os íntimos, é chegado à boemia, ama a época eleitoral quando viaja e cai na farra com o chefe. O nobre deputado, corrupto e raparigueiro por índole, adora Xandoca, ele administra as farras e as mulheres. É secretário particular para assuntos femininos. Aliás, a única ocupação de nosso amigo que só comparece à Assembleia uma por semana. Xandoca nas campanhas eleitorais é pau-para-toda-obra, no interior abre os caminhos com sua maneira de tratar os mais simples, se identifica no linguajar matuto. Nascido em Lagoa da Canoa, município progressista do agreste alagoano, terra de Hermeto Paschoal, veio para capital ainda jovem, ele se virou, arranjou um emprego em um comitê durante uma campanha eleitoral, daí por diante tomou rumo na vida, encontrou seu talento e destino. Conhece todos os políticos de Alagoas, seja deputado, prefeito, senador ou governador, Alexandre conversa na maior intimidade com os figurões; querido e respeitado, arquivo vivo, sabe histórias da política alagoana de fazer corar os meninos de Brasília. Organizador de festinhas nos conchavos políticos. É discreto, Não ouve, não fala, não vê. Nessa última eleição, uma comitiva de político chegou a uma belíssima cidade à beira do São Francisco. Seis carros estacionaram à beira do Velho Chico. Candidatos e assessores tomavam uma cachacinha em um restaurante, bela paisagem, enquanto preparavam a peixada, a cerveja rolou com boas conversas, conchavos, ficaram ouvindo um senhor com mais de 70 anos contando histórias de Lampião, o ex cangaceiro sabia tudo, pormenores da emboscada, bem perto mataram Lampião. Apareceram mais penetras. Tomaram assento, juntaram-se aos outros. Na hora do almoço o deputado dizia-se entediado. – “Estou há mais de uma semana no sertão em campanha, é estafante, e o pior, não comi ninguém nesses dias. Estou doido por uma rapariga”. Olhou para os auxiliares, ordenou em tom de brincadeira. – “Xandoca, vá a Maceió, traga um caminhão de rapariga para uma brincadeira à noite”. A moçada às gargalhadas, puxando o saco com o humor do deputado. Serviram o delicioso almoço, se refestelaram: peixe ao coco, siri, fritada de camarão, muito pitu. Restava descansar no hotel. À noite, a praça lotada gente, de todo canto chegavam em caminhões para assistir o comício. Comício é uma grande distração para o povo, principalmente quando havia show ( proibido por lei). Palanque abarrotado de políticos, abastecido de cerveja e uísque. Certo momento Xandoca aproximou-se e cochichou com entusiasmo ao deputado. – “Pronto. Missão cumprida, chefe. Não trouxe um caminhão, mas, na esquina da praça tem oito raparigas em uma van, escolhidas do meu caderninho. Estão no carro esperando as ordens.” O deputado, satisfeito, deu uma bela gargalhada. Aproximou-se de um magnata-empresário pediu emprestada a bela casa da fazenda, perto da pequena cidade. Depois do comício a comitiva do deputado tomou rumo à casa grande da fazenda. Aconteceu o maior bacanal já realizado à beira do Rio São Francisco. Na mansão havia um jardim gramado cheio de coqueiros, árvores e uma piscina. Da varanda se avistava o Velho Chico, noite de lua, ficou fácil para brincar de se esconder. As raparigas nuas, como vieram ao mundo escondiam-se na área do jardim, depois de gritar, AGÚ, os homens iam ia à caça, quando achava alguma trazia até o deputado, virava, ele dava uma palmada na bunda da rapariga. Depois brincaram de pega, finalmente todos mergulharam na piscina. A festa foi até o dia amanhecer. No domingo o deputado estava feliz no palanque contando a história. Por esse e outros trabalhos, nosso herói continuará no cargo por muitos anos, presta serviços discretos e inigualáveis. Pau-para-toda-obra, é assim Xandoca, o assessor. Claro que o deputado ganhou mais uma eleição.
MEU PRIMO CUCA

Beth, Sofia e Gina eram três jovens bonitas, seus nomes foram homenagens às artistas de cinema: Elizabeth Taylor, Sofia Loren e Gina Lolobrígida. As moças não perdiam em beleza para as três celebridades da época. Sua família morava em Jaraguá perto da Igreja Nossa Senhora Mãe do Povo. Quando elas, sempre juntas, de biquíni, desciam à praia da Avenida da Paz, nós, mancebos maloqueiros, interrompíamos o futebol, a bola parava para apreciar a entrada triunfal daquelas magníficas moças, fonte de inspiração dos tarados, que dentro d’água se possuíam na sua intenção, como diria Martinho da Vila em seu samba.

Acontece que elas tinham um irmão mais velho; alto, forte, sua musculatura mantida por contínuos exercícios contrastava com o cérebro do rapaz, do tamanho de uma ervilha. Tucão era conhecido por sua valentia, aliás, por suas brigas. Era o maior arruaceiro do bairro e da zona das putas em Jaraguá. Certa vez brigou com quatro policiais, foi preso, espancado. Passou a detestar qualquer tipo de polícia. Contudo, Tucão tinha um sentimento nobre: o afeto pelas irmãs. De um ciúme doentio, partia para briga quando o chamavam de cunhado ou qualquer comentário que suas irmãs eram “boas”.

Certa vez, meu querido e saudoso primo, Alberto Lima – Cuca se encantou com a mais nova das irmãs e engrenou um namoro com Gina. Namoro casto, como era naquela época, mão na mão, em vez em quando um beijinho. Sempre com a fiscalização ostensiva de Tucão.

Alberto Lima (Cuca) e Paulo Ramalho, dois meninos da Avenida da Paz, duas saudades imensas.

Certa noite, depois do namoro comportado com Gina, Cuca ao passar dirigindo devagar pelo Beco Vitória, avistou Julieta, jovem destrambelhada, conhecida como “sabãozeira”, isto é, gostava de uma boa sacanagem, sorriu descaradamente para Cuca que prontamente parou o jipe e ela sentou-se a seu lado, Foram para numa sessão de amor enlevado pela brisa marinha por trás do Posto de Salvamento da praia do Sobral.

Cuca estava feliz, toda noite namorava de beijinhos com sua amada Gina, depois pegava Julieta no jipe faziam amor sob o carinho da brisa.

Alberto Lima (Cuca) e Paulo Ramalho, dois meninos da Avenida da Paz, duas saudades imensas.
Certa noite Beth, a cunhada, percebeu quando Cuca apanhou Julieta no jipe para mais uma sessão de exercícios libidinosos. Na noite seguinte quando ele encostou à casa de Gina, ela estava uma fera, namoro acabado, não admitia ser trocada por uma vagabunda. Nesse momento apareceu Tucão arregaçando as mangas da camisa, cara trancada, falando alto que irmã dele não levava chifre. Cuca na hora tomou um susto, brigar com Tucão, era apanhar na certa, levaria uma surra histórica. Com presença de espírito, ele convidou Tucão para tomar uma bebida e conversar. Beber de graça era tentação irresistível para o arruaceiro. Foram para um bar por perto, serviram cerveja, pinga e tira-gosto. Cuca explicou que Julieta era só para sacanagem, ele gostava mesmo de Gina, namoro para casamento e coisa e tal, no campo da astúcia Cuca ganhava tranquilo do mastodonte.

Aconteceu uma noitada de muita bebida, passaram por bares diferentes. Tucão, aonde chegava, provocava alguém, a sorte é que os provocados tiravam o corpo fora.

Noite adentro e Tucão na maior amizade com Cuca, chamando-o de cunhado. Em certo momento ele inventou de ir à zona das quengas. Cuca esperando que a noitada terminasse, acabou concordando. Partiram rumo à Jaraguá. Ao passar no final da Avenida da Paz, de repente Tucão, bêbado, pediu para parar o jipe e saltou, dirigiu-se a dois policiais, uma dupla de Cosme e Damião que fazia ronda. Cuca não acreditou quando assistiu Tucão se aproximar dos soldados e desfechar um murro em cada soldado, deixando-os no chão, ainda deu ponta pé, recolheu dois capacetes e correu para o jipe. Cuca assustado deu partida e por insistência parou e subiram à Boate Tabariz. Sentados à mesa Tucão colocou o capacete em sua cabeça e colocou o outro na cabeça de Cuca. Pediram cachaça e duas raparigas. Depois da primeira dose Cuca conseguiu tirar o capacete, colocou-o embaixo na mesa, estava apreensivo com aquela loucura do “cunhado”.

Certa hora Cuca foi ao sanitário. Ao retornar percebeu a confusão. Oito policiais xingando e batendo em Tucão, seguro por trás. Cuca saiu do banheiro de fininho, sem ser percebido, desceu a escada íngreme de um salto. Teve sorte, não havia policial no jipe. Deu a partida e chegou em sua casa na Avenida da Paz, aliviado.

No dia seguinte, soube do acontecido por amigos. Tucão brigou com os oitos policiais, levou muita porrada, amarraram o arruaceiro, levaram preso para 2ª Delegacia, onde lhe deram uma surra inesquecível.

Meu saudoso primo Cuca esqueceu a bela Gina, por muito tempo ficou sem passar perto da casa da jovem nos arredores da Igreja Nossa Senhora Mãe do Povo. Evitou pelo resto da vida encontrar-se com Tucão, seu cunhado. Porém, lhe sobrou a fogosa, serelepe, Julieta, continuaram refrescando-se pela brisa do mar por trás do Posto de Salvamento na praia do Sobral.

O BOM PEDREIRO

O fato se deu há algum tempo. Na época eu era engenheiro de uma Construtora, estávamos construindo um hotel na praia de Ponta Verde. Todo sábado, depois de um giro nas obras, pagamento de funcionário, nos juntávamos a bons amigos para uma cerveja de início de fim-de-semana. Certa vez sentado à mesa do Bar do Alípio na Lagoa com amigos, a bebida e comida rolando, quando apareceu o Mestre de Obra apavorado. Acontecera um acidente de trabalho grave. Um pedreiro, realizando trabalho extra, caiu do quinto andar, o seu corpo durante a queda se chocou com andaimes, caixotes de papelão e um monte de areia, o que minimizou o impacto da queda. O pedreiro estava no Pronto Socorro em observação. Imediatamente, me dirigi ao Hospital.

Levaram-me ao acidentado na enfermaria de acidentados. Pedro, excelente pedreiro, deitado numa cama com partes do corpo enfaixada. O médico informou que, milagrosamente ele estava fora de perigo, porém havia um problema, uma sequela da queda. Pedro ao cair no chão bateu com a cabeça, o que causou priapismo. Ignorante, perguntei o que vinha a ser priapismo. O médico explicou ser uma ereção contínua e persistente do pênis, sem necessariamente sentir desejo sexual. Desde que chegou ao hospital não houve possibilidade de murchar. Já havia colocado água fria, álcool, éter; e o pênis continuava indefectivelmente duro.

Depois de prestar assistências burocráticas, retornei imediatamente o Bar do Alípio contando aos amigos o inusitado ocorrido e as providências tomadas. O assunto do restante da tarde foi o priapismo. Teve um coroa com ideia de se jogar lá do quinto andar na tentativa de revigorar seus apetrechos.

Na segunda-feira um jornal deu a notícia: “Pedreiro cai do quinto andar e se salvou milagrosamente graças a um monte de areia, entretanto, causou uma sequela pouco comum, o priapismo”. O jornalista narrou com detalhes o significado, e que nada havia baixado nas últimas 48 horas. O médico previu no mínimo trinta dias de cama e necessitava ficar em algum hospital particular. Assim Pedro foi transferido para uma Casa de Saúde. A partir desse dia, não houve mais sossego para Pedro. Foi visitado por curiosos, por pessoas interessadas em estudar o fenômeno. Uma turma de estudantes de medicina acompanhou o caso diariamente. Algumas meninas foram de tamanha dedicação que davam plantão à noite. Havia uma espontânea compaixão por aquele doente. Algumas visitas voluntárias, com sacrifício, até dormiam como acompanhante, numa mostra de solidariedade humana.

Os dias passaram. Pedro foi se recuperando dos ossos quebrados, mas o priapismo continuava desafiando a medicina. O “pênis- erectus” permanecia.

Contrataram algumas meninas da Boate Areia Branca do famoso Mossoró. Várias tentativas aconteceram e nada de amolecer. Pedro já se sentia incomodado, mesmo com tanta gente caritativa tentando baixar seu desconforto.

Depois de 17 dias de ininterrupta rijeza, alguém se lembrou de Dolores, respeitada mãe-de-santo, quando jovem trabalhou nas boates de Jaraguá. Ficou muito conhecida dos boêmios pelos seus dotes e serviços completos. Sábia, sem nunca ter lido o Kama- Sutra, fazia um “frango-assado” como ninguém, era mestra. Escondido dos médicos, amigos levaram Dolores. Ela trancou-se com Pedro no apartamento, levou ramos e óleos. Quarenta minutos se passaram quando se ouviu um barulho, baque de um corpo no chão. Os amigos bateram à porta, gritando afobados. Dolores Sierra abriu a porta e saiu toda faceira, como uma rainha, sorria maravilhosamente, cara desavergonhada. Dentro do quarto, Pedro deitado no chão, olhando a parte afetada, comemorava: “Consegui, consegui. Viva Dolores!”