José Vieira Passos Filho

Engenheiro civil pela UFAL, graduado em 1970. Eng. aposentado da Prefeitura Municipal de Maceió em 1993. Profissional em drenagem urbana. Sócio proprietário da empresa Passos Engenharia Ltda especializada na elaboração de projetos de infraestrutura urbana.

Produções técnicas de engenharia: Urbanização da praia de Pajussara (1971), Projeto viário da orla lagunar (1980), Macro drenagem do bairro Tabuleiro de Maceió (1984), Urbanização do vale do Reginaldo (2008), Projetos de infraestrutura viária para Maceió e municípios de Alagoas (1970 – 2022).

Produções literárias: “Histórias do país do Bananal” (1999); “História do Bananal” (2007), Artigos publicados na Gazeta de Alagoas e Tribuna Independente (2009 -2021); publicações de poemas, contos e artigos em diversas antologias de Alagoas e Pernambuco.

Sociedade e Cultura: sócio efetivo da cadeira 58 do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL), posse em 26.08.2015; Acadêmico efetivo da cadeira 04 da Academia Maceioense de Letras (AML) posse em 09.11.2016; Sócio efetivo da Academia Alagoana de Cultura (AAC), posse em 19.07.2018; Sócio Honorário da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, (SOBRAMES/AL), posse em 08.2019; Presidente da Academia de Letras do Brasil (ALB), representação Alagoas.

Textos disponíveis:

  • Maceió do futuro
  • Encontro de amigos
  • Homenagem à defunta
  • Maria Ilza
  • Não subestimem a chuva
  • Não culpem o rio!
  • A incrível turma de 1970!
  • Engº José Miguel de Oliveira

MACEIÓ DO FUTURO

ENCONTRO DE AMIGOS

 

HOMENAGEM Á DEFUNTA

NÃO SUBESTIMEM A CHUVA!

As chuvas intensas são recorrentes a cada 2, 5, 10, 100 anos. Os rios, os pequenos córregos, as grotas das cidades transbordam para ocupar seus espaços que foram invadidos pela urbanização inadequada. Os governos permitem habitações em áreas impróprias. Nas margens dos rios, nas grotas, nas encostas com grandes inclinações; locais difíceis de controlar as águas da chuva, principalmente nas grandes precipitações. Então, o que se vê nos noticiários são habitações sendo destruídas, inundações nas cidades, pontes ruindo e vidas ceifadas.

Sei que evitar a ocupação de espaços urbanos inadequados para construção de habitações é um processo quase incontrolável pelo poder público. Reconheço também que o Governo Federal, cada ano, destina menos recursos para prevenção de tragédias.

Depois da catástrofe é que chega o dinheiro para reconstrução – geralmente no mesmo local. Mas as vidas que se foram não se pode reparar. É mais fácil prevenir, que remediar. Para conter as grandes tormentas o correto é a implantação de reservatórios antes das cidades (montante), que também regularizam as vazões dos rios e podem servir para abastecimento d’água e realização de projetos de hortifrutigranjeiros (por que os governos não fazem isso?). Nos grandes projetos habitacionais, que impermeabilizam grandes áreas, o correto é evitar o escoamento das águas por galerias de grandes dimensões, diretamente para os córregos, com a implantação das chamadas lagoas de detenção – que permanecem secas a maior parte
do tempo, para receber água apenas nos dias de chuva. A água vai para o córrego controlada, evitando cheias

Maceió já foi palco de grandes tormentas – espero que não aconteça por mais tempo. Mas um projeto de prevenção eficiente poderá minimizar seus efeitos, quando estas vierem. Temos muitas casas construídas em área de risco, que não suportam uma chuva com intensidade moderada – esses imóveis precisam ser identificado e seus moradores removidos para área seguras. A limpeza dos córregos para dar maior capacidade de escoamento da água, evita seus transbordamentos. São muitas, as galerias em vários bairros que estão inoperantes – um
levantamento criterioso poderá identificá-las; substituindo-as, irá fazê-las trabalhar com mais eficiência.

Não subestimemos a chuva! É um apelo de quem trabalhou (e ainda trabalha) projetando sistemas de drenagem, principalmente para empreendimentos habitacionais, para Maceió.
Os recentes noticiários alarmantes nas grandes cidades brasileiras, são exemplos de que precisamos ter mais cuidados com a chuva.

NÃO CULPEM O RIO!

Os rios, periodicamente, transbordam além das margens naturais, para ocupar as planícies de inundações. A cheia de um rio é algo assombroso; a água, em enxurrada, faz um barulho ensurdecedor, leva tudo que encontra pela frente. Um mal necessário. Um processo de limpeza.

Os leitos dos rios, nas áreas de menores declives, faz a velocidade da água diminuir, elevando seu nível, consideravelmente. Isso já foi muito bom no vale do rio Nilo, no Egito antigo, hoje, as cheias provocam destruições, pois as civilizações, inadvertidamente, ocuparam os espaços dos rios.

As cidades foram construídas às margens de rios. A explosão demográfica, não devidamente planejada, ocupou vales e encostas. As encostas, desnudas de vegetação, faz a água escorrer com grande velocidade, levando o lixo, que obstrui bueiros e faz aumentar o poder destruidor das cheias.

Exemplificando, a recente cheia em Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro: destruição das área urbanas, nunca vista na história dessas cidades. Não vai ficar só por aí, deve piorar, ano a ano. É essa a previsão dos estudiosos pois o Efeito Estufa já está provocando, com mais frequência, precipitações pluviométricas acima da média.

O Brasil precisa, URGENTEMENTE, de um programa de prevenção de cheias. É necessária a recuperação ambiental das áreas marginais dos córregos, bem como a construção de barragens, para controlar a vazão dos rios. Os canais devem permanecer abertos, para facilitar sua dragagem periódica. São extremamente necessárias obras de macrodrenagem nas cidades, tais como, lagoas de acumulação e de detenção, para minimizar os efeitos das grandes precipitações pluviométricas. Os custos para reparar os danos das cheias são incalculáveis.

No caso de Maceió, os antigos loteamentos implantados nas décadas de 60/70/80 foram projetados para a construção de casas, depois, ali, foram erguidos prédios, visto as famílias começarem desejar morar mais perto da praia, do comércio, do trabalho. A demolição de duas ou três casas, deu lugar a um prédio de 10 andares. No local onde moravam duas famílias hoje residem quarenta, os prédios passaram a ocupar 100% da área dos terrenos, ficou tudo impermeabilizado. Os morros de Maceió estão ocupados, as encostas e os vales também. Maceió está carente de um sistema de drenagem pluvial mais confiável, devido a precariedade de suas galerias e canais, por causa da idade construtiva. As galerias ficaram sub dimensionadas, visto o adensamento urbano.

O rio não tem nenhuma culpa. As tempestades são cíclicas. A água da chuva limpa a atmosfera. O aguaceiro purifica a terra e abastece o lençol freático. Não culpo ninguém, mas recomendo um planejamento mais eficiente, para prevenir Maceió de precipitações mais intensas.

A INCRÍVEL TURMA DE 1970!

Fomos uma turma única, a dos Engenheiros Civis formados em 11 de dezembro de 1970. Completaremos 50 anos de graduados, em 2020. Vou aguçar a memória, voltar ao passado, há quase 55 anos, para descrever alguns fatos relevantes da trajetória dessa turma.

Vejo-me entrando no antigo prédio da Escola de Engenharia, na Praça Sinimbu, sou surpreendido por um grupo que me recebe eufórico, de tesoura à mão, cortando-me o cabelo. Logo entendi que havia sido aprovado no difícil vestibular. Fomos comemorar a vitória no restaurante Caiçara, na Pajuçara. Que peixada primorosa! Foi uma bebedeira! Comprei a boina, raspei o cabelo, fui para casa, à noite – era um sábado -, já estava amostrando-me na Praça Deodoro.

Foram cinco anos de convivência, de um grupo que iniciou com 40 alunos e terminou com 38. Na turma tinham apenas 3 mulheres: Bernadete, Thereza e Sônia. Era uma turma coesa, no meu entendimento, mas que questionava, entre si e também junto aos mestres, quando necessário. Durante o período escolar formavam-se vários grupos: os que estudavam juntos, aqueles que se reuniam nos jardins da Praça Sinimbu, nos intervalos das aulas ou quando faltava um professor. Alguns sobressaiam-se como estudiosos, tinham os que evidenciavam ser mais inteligentes. A turma fez várias excursões técnicas: Paulo Afonso, Salvador, Estádio Rei Pelé (em construção), algumas obras em Maceió. Quase todos ganharam apelidos: eu era o mais magro (esquelético, mesmo) da turma, tinha apenas 42 kg, então fui cognominado (pelo Beder) de “rato de casa de ferragem” – depois somente, “ratinho” (nos apelidos, vou ficar por aqui). José Vieira, ou Vieirinha, chamavam-me quase oficialmente. Meu número de chamada era o 21. Após a formatura, o grupo com os pais mais abastados, viajou à Europa; eu não fui, mas soube que foi uma viagem memorável. Após formados, todos arranjaram empregos (CEAL, CASAL, DER, SUMOV, DENIT, professores da UFAL, alguns migraram para outros estados ou montaram empresas de engenharia).

Após esses quase 50 anos de formatura, nossa turma se reuniu poucas vezes, mas aqueles que ficaram em Maceió (a maioria) sempre mantiveram (ou mantem) contato. Depois de pouco mais de 20 anos de formados, começaram as baixas (falecimentos), atualmente, pelo meu controle (e do Jorge Romualdo, colega de turma), já se foram, creio, onze, sendo a mais recente perda, JOSÉ BEDER LEITE.

BEDER, era do grupo dos estudiosos/ inteligentes; sem desmerecer os demais colegas, posso afirmar que ele era o gênio da turma, como bem se expressou em artigo, Geraldo Magela, publicado em 24. 01.2020. Beder, foi um dos coordenadores de nossa formatura, era nosso líder, sempre tinha solução para todos os problemas da turma, solidário com todos os colegas, nunca se desentendeu com nenhum. Depois de formado foi professor da UFAL, até sua aposentadoria.

Aproveito a ocasião, para fazer um apelo aos remanescentes da incrível turma de Engenheiros de 1970, agora todos, já com mais 70 anos, que nos reunamos na memorável data dos nossos 50 anos de formados (será uma sexta-feira), precisamos nos rever; por um momento seremos os adolescentes que conviveram, dia a dia, por cinco anos, época que jamais será esquecida.

(Do livro “Não culpem o rio”, em produção)

ENGº JOSÉ MIGUEL DE OLIVEIRA

Para escrever sobre o engenheiro Zé Miguel, de saudosa memória, consultei alguns colegas de profissão que também conviveram com ele: Márcio Pinto, Ednardo Quintiliano, Marcos Carnaúba, Juranildo e pessoas de sua família, para lembrar-me fatos e passagens da vida profissional desse grande engenheiro, que soube honrar a Engenharia alagoana. Zé Miguel se foi em 15.06.2020, tragado pelo COVID 19.

Zé Miguel, era da 5ª turma de engenheiros da Escola de Engenharia de Alagoas, formado em 11.12.1963 pela Escola de Engenharia. Turma de 10 engenheirandos: José Miguel de Oliveira, Givaldo Tavares Lira, Humberto Lessa Lobo, Itamar Rego Barros, Ives Prudente, José Nelson Mendonça, Marcos Mesquita da Silveira Mello, Mário Fortes Melro, Paulo dos Anjos e Ubirajara Gomes de Oliveira. Trabalhou na CEAL (1963), SAEM (1965), foi estagiário nos EUA na área de saneamento básico (1965), trabalhou na Secretaria de Educação de Alagoas (1967), trabalhou na Petrobrás (1968), na CASAL (1977/75) no cargo de Diretor Técnico e de Operações, onde destacamos o projeto do Emissário Submarino. Foi Prefeito Universitário da UFAL (1980/92). Aposentou-se pela UFAL em 1992. Prestou serviços na Prefeitura de Maceió. Também no período de 1992 a 2009 trabalhou para o Governo do Estado de Alagoas (ITERAL/SEPLAN/Diretor Técnico da Fundação Manoel Lisboa). De forma discreta, fez muito pela engenharia alagoana.

Zé Miguel, honrou sua profissão. Era competente, um homem íntegro, incorruptível e bom administrador. Tinha uma memória privilegiada, citava nomes e dados de obras pública de Alagoas e de pessoas. Era conhecedor e contador da história dos políticos de Alagoas. Conhecia a origem das grandes riquezas de alagoanos, muitas vezes obtidos de maneira espúria.

José Miguel de Oliveira nasceu no povoado Coruripe da Cal, em Palmeira dos índios, em 15.03.1936. Seus filhos são: Eduardo, reside em Recife; Ana, mora em Feira de Santana e Valéria, que trabalha no Banco do Brasil, em Brasília. Ultimamente, esteve tratando de uma pneumonia, precisou ser internado durante algumas semanas. Depois necessitou de cuidados médicos em casa. Nesse vai e vem, contraiu o COVID e partiu. Uma grande perda para a engenharia alagoana.

(Do livro “Não culpem o rio”, em produção)