CARTA AO CANDIDATO
Caro candidato,
Independentemente de quem você seja, ou para que cargo tenha se apresentado, gostaria de fazer algumas observações, muito pessoais, sobre o processo político e como vejo o delicado momento da busca de votos. Estou especialmente preocupado com aqueles que, apresentando-se a cargos públicos, tentam negar a Política e os políticos, criando uma imagem deturpada da Ciência e de seus operadores.
Atuar na Política (assim, com letra maiúscula) é, essencialmente negociar, fazer acordos, eventualmente ceder. Neste processo, os espaços políticos são também importantes moedas de troca e não podem ser demonizados ou menosprezados pois comprometem a própria atividade Política. Para governar é essencial celebrar acordos, reunir o Poder que a Democracia dilui justamente para impedir que todo ele recaia num único par de mãos.
Negociamos em casa, com a esposa, filhos, pais, amigos. Trocamos benefícios por procedimentos ou comportamentos que precisamos ou desejamos. Fazemos Política também em nossos trabalhos, nossas entidades, nossas organizações. Onde existem duas pessoas, aí se faz Política. Aí se ganha e se perde. Cedemos e recebemos o tempo todo de tal forma que consigamos caminhar, juntos para um futuro melhor. Como é fácil perceber, a liderança política tem papel fundamental neste processo e é, portanto, uma nobilíssima atividade.
E não há nada de ruim, imoral, ilegal ou degradante no processo Político que é feito sob essa ótica. Até porque imaginar que se pode governar sem fazer Política, sem construir alianças, sem ceder espaços, sem ouvir e aceitar posições diversas às suas, é sonhar com a possibilidade de entrar num mundo inexistente. É crer que todos aceitarão a opinião unitária e incontestável do “dirigente”.
Pior é o fato de que, quem se apresenta para assumir um Poder Público com a pretensão de não negociar, é, de fato, um pretenso ditador que idealiza um poder absoluto, impossível numa Democracia.
Assim, meu caro, sugiro que faça sim, acordos e negociações, ouvindo os desejos de pretensos apoiadores, suas necessidades, seus sonhos. Dentro do que lhe parecer possível, dê-lhes as esperanças e expectativas que tanto precisam (é uma forma de negociar: fazer compromissos) e, se for convincente e sincero, em troca receberá seu voto.
Mas o mais importante é que, se conseguir o que deseja, se os votos assim “trocados” permitirem que você seja eleito, honre cada um deles e se sinta sempre em débito nesta negociação Política.
Grande abraço,
BUSCAR A LUZ
Em nossa vida, as experiências e experimentações são uma fonte inesgotável de conhecimento e vivência. É nos erros e acertos, individuais e coletivos, que construímos nossa personalidade e as características da sociedade em que vivemos. Mas nem um, nem outro, consegue atingir sua plenitude, pois a realidade é sempre mutável e, por ela, cada um de nós é chamado a enfrentar novos desafios, com criatividade e destemor. Assim como a nação é levada a enfrentar sempre novas dificuldades, a caminho para o futuro.
Mesmo quando passamos por momentos ruins, negativos, o aprendizado deles decorrente nos faz reconhecer um novo caminho e a vida nos permite sempre uma outra chance. Uma nova tentativa.
Numa perspectiva de sociedade, democrática e livre, entendo que nossas decisões coletivas são produto do conhecimento e expectativas, presentes no complexo conjunto de pessoas que formam a Nação. Assim, não há certo ou errado. Não há falta de patriotismo, ou irresponsabilidade com a pátria, se decidirmos, coletivamente por A ou B. Essa decisão, tomada a partir de regras democráticas e livres, não carrega erros já que não pode ser qualificada. É o que é: a decisão livre da maioria. Considerá-la correta ou errada implicaria num juízo de valor pessoal que é inaceitável para a realidade objetiva e coletiva.
E assim tem sido em todos os momentos que que fomos chamados a decidir pelo voto. Ora uma tendência, ora outra, assumem a responsabilidade de liderar e o faz com o melhor de suas possibilidades. O sistema democrático permite que, de tempos em tempos, façamos todos uma avaliação dos resultados obtidos, aprovando o caminho ou substituindo-o por outra senda.
O mais importante é que tal decisão é tomada pela maioria dos membros de nossa sociedade, dando-lhe absoluta credibilidade e validade. E o processo permite a ampla discussão, conhecimento e questionamento de todos, criando as condições necessárias para a escolha consciente e livre de cada um. Imaginar que nosso ponto de vista individual é o mais correto e que as demais opiniões são antipatrióticas ou amorais é erro comum e justificável apenas pelo envolvimento emocional que esses momentos naturalmente trazem. Mas devemos nos livrar destes sentimentos e entender que o melhor para nossa sociedade, a cada momento, é uma escolha coletiva que pode, ou não, coincidir com a nossa opinião. É assim que avançamos! E, em breve, teremos uma oportunidade de deixarmos a escuridão e buscar a luz.